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Setor têxtil alerta para risco de desabastecimento

Setor têxtil alerta para risco de desabastecimento

A indústria têxtil brasileira vive um momento de tensão. A recente aplicação de medidas antidumping sobre o fio de poliamida 6 (PA6) expôs um problema estrutural: o Brasil depende quase totalmente do mercado externo para suprir esse insumo essencial.

Segundo o Relatório Setorial Brasil Têxtil 2025, da IEMI - Inteligência de Mercado, 94,49% de todo o volume consumido no país foi importado em 2024, resultando em um déficit de US$ 885 milhões na balança comercial de filamentos sintéticos. As exportações somaram apenas US$ 54,8 milhões, enquanto as importações atingiram US$ 939,9 milhões.

Essa dependência extrema torna qualquer barreira comercial um fator de risco imediato para malharias, confecções e toda a cadeia de vestuário.

Medida antidumping acende alerta no setor

A medida antidumping provisória sobre o fio de PA6 é importante para garantir concorrência justa, entretanto, empresários destacam que a situação é mais crítica do que parece: o Brasil não produz PA6 em volume suficiente para suprir seu próprio mercado, ou seja, a aplicação de sobretaxas em um insumo sem equivalente nacional representa um grande risco. 

Reunião em Brasília expõe desconhecimento sobre a dependência do insumo

O tema ganhou força após uma reunião realizada em 5 de novembro, quando mais de 20 empresários do setor se encontraram com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, em Brasília.

Segundo participantes, Alckmin demonstrou surpresa ao descobrir que o país é altamente dependente da poliamida 6 importada, justamente no momento em que medidas de defesa comercial estão sendo aplicadas ao produto.

O episódio foi interpretado como um desalinhamento entre a política comercial e a realidade da indústria.

Santa Catarina é o estado mais exposto

Santa Catarina - maior parque têxtil do Brasil - é o estado mais vulnerável a uma eventual interrupção no fornecimento.

De acordo com a FIESC:

  • O setor têxtil e de vestuário emprega 178,7 mil trabalhadores formais,
  • Pequenas e médias empresas seriam as primeiras a sofrer com desabastecimento,
  • A falta de PA6 pode paralisar linhas de produção, afetar exportações, empregos e abastecimento do varejo nacional.

Setor defende calibragem das medidas de defesa comercial

Embora a medida antidumping seja provisória, o setor têxtil pede calibragem urgente da política comercial. O objetivo não é impedir a proteção da indústria nacional, mas evitar:

  • Desabastecimento imediato,
  • Aumento abrupto de custos,
  • Fechamento de empresas menores,
  • Perda de competitividade frente a produtos prontos importados,
  • Migração de indústrias para países vizinhos, como o Paraguai.

Para empresários, o desafio é equilibrar a defesa comercial com a necessidade de manter a produção ativa em um cenário onde a dependência externa do insumo é ?estrutural e inescapável?.

A crise envolvendo a poliamida 6 escancara uma verdade incômoda: não há indústria forte sem insumos acessíveis, estáveis e competitivos.